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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

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Jidá, a segunda cidade do reino, pérola do Mar Vermelho, está para o Reino como o Porto para Lisboa, mais liberal, mais trabalhadora, com mais pontes (agora estou a exagerar, que aqui também não há rio, portanto nada de pontes nem barcos rabelos a trazer vinho para caves).

Há algum tempo que me apetecia mudar para lá, sempre é mais arejado. Acabou por acontecer, pelo que, mais uma vez, enfiei toda a bagagem numa viatura e atravessei o país.

Mudanças não são para acumuladores, acabam por ser uma oportunidade para descartarmos uma data de coisas que já nem nos lembrávamos de ter guardado, nem porquê.

Precisei de um dia para a operação de triagem e embalagem. No fim, tudo o que tenho aqui está dentro da bagageira de um sedan americano. Com os bancos traseiros rebatidos. E uma mochila no banco da frente.

Já passámos a época de gravar CDs com música para viagem (K7s então, pff…), há listas de reprodução para viagens no Spotify, mas acabei por ir ouvindo audio livro Faith, Love & Carnage, que é muito mais adequado a uma longa viagem de carro.

Entre Riade e Jidá a autoestrada é boa (tirando a zona de Meca, que está em obras) com troços de velocidade máxima 140km/h, boas áreas de serviço. Não há uma AS da Mealhada onde comer sandes de leitão, mas também não cobram mais de 1€ por uma bica. Pensando bem, até cobram. E o café vem queimado. E em copo de plástico.

O único incidente da viagem foi uma operação stop em Taif, para verificação de documentos. Tinha o ishtamara na bagageira, saí do carro para o ir buscar, mas o senhor guarda achou que não valia pena, deixe estar, não se incomode, pelo aspecto vê-se logo que é uma pessoa que tem tudo em ordem.

No entanto, reparou que os bancos de trás não estavam ocupados por 4 senhoras tapadas, mas fatos ensacados. O normal é haver senhoras ensacadas em fatos. Pediu para que eu abrisse a janela, espreitou, reparou num par de garrafas de água na consola e perguntou, whisky?

Não senhor, é só mesmo água, nem whisky nem rosas, senhor.

O senhor guarda acreditou, segui, mas uma pessoa fica a pensar se haverá quem se atreva a transportar álcool à vista e, quando questionado, o admita.

Entrei em Jidá ainda antes do pôr-do-sol, que fui ver à Corniche. É bonito.

Desta vez espero ficar mais tempo no mesmo sítio, há mais motivos para um português se dar bem em Jidá que em Riade (aqui vê-se o mar e há pastéis de nata portugueses) ou Jazan (não se vive num contentor).

O traçado viário é que deixa um bocado a desejar, faixas de aceleração/desaceleração é uma cena que não lhes assiste, passagens inferiores ou viadutos para inversão de marcha é para meninos. O lobby dos bate-chapa é forte por estes lados.

Enfim, como costuma dizer na marinha, um homem habitua-se a tudo.