O Circo veio à cidade
Na última publicação houve fotos do Bruno, hoje há texto.
Desde 2021 que os sauditas compraram o seu lugar na Fórmula 1, e para a coisa ter o glamour necessário, com aspirações a Mónaco, a beira-mar pareceu adequada, com marinas, casinos e campanhe. Daí que a escolha tenha recaído sobre a Riviera Saudita (acabei de inventar agora), e a sua pérola, Jidá. Champanhe não há, casinos também não, a marina está ser melhorada, e a beira-mar já existe desde o Triássico (não sei, não estava lá para ver).
O circuito é publicitado como sendo a mais rápida pista urbana na F1, provavelmente um eufemismo para “não vamos ter tempo para fazer um de raiz, mas temos cá uma avenida muito comprida”.
Quem chega ao aeroporto, por estes dias, é acolhido por jovens sauditas, a operação de charme começa cedo. Ainda assim, tem o seu toque de ironia, trazer os melhores pilotos do mundo ao país onde se conduz pior.
Quanto à organização em geral, nunca fui a um Grande Prémio, não tenho termos de comparação, mas pareceu-me tudo muito bom. Parques de estacionamento na periferia, autocarros a transportar os espectadores para o circuito. Os motoristas conduzem descalços, para darem logo aos turistas um cheirinho da cultura local.
Já no circuito, suponho que o ambiente seja semelhante ao de todos os outro GP, uma Babel de nacionalidades, entusiastas de carros, fanboys (perdão, fanpeople), gente que só veio pelo convívio, garotos que só vieram pelos concertos, às 9 da noite ainda há gente a entrar. Não sei se os concertos foram bons, começam tarde e ao Domingo aqui trabalha-se.
Voltando aos fanpeople, há muita gente vestida a rigor, com as cores da sua equipa preferida, mas ao contrário do que acontece com o futebol, não é necessário separar os adeptos da Redbull dos da Mercedes, nem há Juve Cavalino Rampante. Ainda para mais, não havendo bebidas alcoólicas, isto é tudo gente que sabe estar.
No dia da corrida, não houve grandes mudanças no panorama, até cerca de uma hora antes do início. As bichas para as barraquinhas de comida aumentaram, tal como para os lavatórios do WC. Sim, os lavatórios. Havendo urinóis, não há bicha para urinar, mas chega a hora da reza e os crentes precisam das abluções, o início da corrida coincide com o Maghrib, por causa das transmissões televisivas, e está mais fresquinho. Por outro lado, como fast-food é conceito que não os assiste, consegui ter a minha pizza pronta só a 10m da largada, e não permitem levar comida para as bancadas.
Aliás, nem comida nem bebida, nem frappuccinos caramel latte machiatto, é um atentado à cultura local, obrigá-los a assistir a um evento sem um copo de açúcar aromatizado na mão. Questionado pelos árabes, não percebo a resposta do porteiro, mas deve ser algo do género “são ordens do nosso comandante”, manda quem pode, obedece quem deve. Nota-se que isto é um desporto de elites, não há vendedores de amendoins ou sandes de queijo nas bancadas, querem comer enquanto vêem os carros às voltas, comprem bilhetes para a sala VIP.
Ou levem uma malhinha, já dizia a minha avó. Neste caso, um hoodie serve bem, é pedir uma pizza individual, espalmar os bordos da caixa e passa despercebida entre o hoodie e a camisa. Resultou, mas para a próxima é melhor levar também fita americana, para vedar a parte de baixo da caixa, evitam-se nódoas de molho de tomate.
Antes da partida ainda houve desenhos com laser, uma senhora a cantar e os vips a dar a volta à pista, em autocarro descoberto, acenando à plebe. Se não é para isto que uma pessoa enriquece, então nem vale a pena o esforço.
Por fim, cerimónia do pódio com champomix, ou similar, e fogo de artifício. E concertos. Para os garotos, os crescidos trabalham no dia seguinte.