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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

A Arábia Saudita é um pais grande, muito grande, com vontade de expandir o turismo, mas há duas cidades de acesso exclusivo a muçulmanos, Meca e Medina.

São as cidades onde Maomé fundou o Islão, portanto cidades sagradas, e ao que parece o Corão interdita a presença dos infiéis em locais sagrados. Mais ou menos, as mesquitas supostamente também são locais sagrados, mas abertos às visitas dos descrentes. Eles lá sabem. No caso de Meca, juntam-se às questões religiosas as operações logísticas. A cidade recebe por ano quase 11 milhões de peregrinos. Aproximadamente o mesmo que o Eurodisney. Se os franceses se conseguem orientar com tanto visitante, os sauditas também já deviam ter tudo orientado, até porque têm mais experiência. Mas ainda não estão preparados para misturar viajantes millenials à procura do restaurante frequentado pelos locais, a atrapalhar o movimento dos crentes ao redor da ka’bah enquanto fazem directos para o TikTok, e de repente aquilo já está cheio de tuktuks, nómadas digitais a fazer disparar o preço da habitação e grupos a seguir uma senhora com uma bandeirinha na mão.

No caso de Medina, parece que já se pode visitar, em certas e determinadas condições, mas o perímetro proibido (haram) de Meca abrange a via rápida entre Taif e Jidá, e o acesso ao meu projecto de Meca.

Viajando desde Taif, nem é assim lá muito problemático, há 2 postos de controlo (3 durante o mês do Ramadão) mas a minha compleição lusa, de moura ascendência, permite passar sem interferência, e a obra fica fora da área haram.

Já a viagem para Jidá, obriga a ir pelo equivalente à Nacional 125, o que é aborrecido quando se tem uma Via do Infante tão jeitosa ali ao lado. No fundo, é como não ter um identificador da Via Verde, sabemos que pela Via do Infante é mais rápido, mas as consequências podem sair caras.

Ao menos em Portugal, viajar pelas EN ainda nos pode compensar com um cozido em Canal Caveira, ou um arroz de tomate em Pombal. A alternativa à via rápida de Jidá apenas nos apresenta radares a cada 100 metros e uma aldeiazeca com uma estação de serviço e arroz com borrego. Uma pessoa até pondera converter-se.