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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Emigrar para sítios onde não se fala a nossa língua é sempre um desafio. Em países do Médio Oriente, o inglês estabeleceu-se como língua de trabalho, pelo que uma pessoa consegue safar-se sem saber falar árabe. No caso dos escoceses, até se safam sem saber falar inglês.

Um país com tanta imigração torna-se uma torre de Babel, além do árabe e inglês, também há muito urdu, hindi, tagalo…

Ainda assim, seria de esperar que, ao fim de sete anos aqui, já soubesse falar árabe razoavelmente. Mas não. Houve colegas de curso que emigraram para o Algarve, e em poucos meses já conseguiam perceber e falar a língua local. Mas aqui é mais complicado. Começa logo com o alfabeto, em que cada letra se escreve de maneira diferente, conforme a sua posição na palavra (princípio, meio, final ou isolada), e escreve-se da direita para a esquerda. É uma das razões pelas quais os livros policiais aqui não têm grande sucesso, começa-se a ler pelo fim e fica-se logo a saber quem é o assassino (estou a brincar, está-se mesmo a ver que foi o mordomo).

E às vezes até dá jeito (ver a publicação sobre a venda do carro), que o Google Translator não chega para tudo.

Mas, confesso, uma pessoa acomoda-se, é preciso ter mesmo vontade de aprender árabe, que isto não vai lá só com tutoriais do Youtube. E também, como é natural numa língua falada por milhões de pessoas, em vários países, não há uniformidade. Se recorrermos a um professor, normalmente calha um egípcio que ensina árabe académico, bastante diferente do árabe coloquial. Imaginem um árabe aprender português com um professor brasileiro, que o ensina a dizer Cais do Sodré, e depois chega a Lisboa e ouve um autóctone a dizer Caixedré…

Felizmente, a comunicação não se esgota na linguagem, nas palavras. De acordo com pessoas que fazem estudos sobre, lá está, estas coisas, apenas 7% da comunicação é verbal. Quem está numa relação com uma mulher e ouve “nada” como resposta à pergunta “que se passa?” sabe bem a que me refiro.

Há outras formas de comunicação universais (algumas implicam a exposição de certos dedos). E além disso, como dizia um ex-colega, que insistia em dar instruções em inglês a um motorista árabe monolíngue, pela minha experiência eles percebem sempre alguma coisa.