O ACIDENTE II
2020, Dezembro 13
Primeira deslocação à Mooror (segunda, se contarmos com a de sexta), com o driver da empresa, que acumula como tradutor. Caso não tenham lido o primeiro capítulo, Mooror é a Brigada de Trânsito.
O escritório onde a polícia trata deste assunto parece ter sido montado nos anos 80 (parto do princípio que pessoas que ainda lêem blogues se lembram de como eram os escritórios dos anos 80), e por aí se ficou. Há 4 secretárias de madeira escura, um conjunto de 3 cadeiras tipo aeroporto para os cidadãos esperarem, polícias entram, polícias saem, cidadãos trazem papéis, são assinados, carimbados, recolhidos (os papeis, não os cidadãos).
Consegue-se a identificação do condutor e autorização para recolha de orçamentos. São necessários 3 para a mão-de-obra, mais um para as peças. Coisa para custar 150 riais, são 50 por orçamento.
2020, Dezembro 14
Nova deslocação a Jazan, o carro lá se consegue arrastar, mesmo com o escape estrangulado, nem vale a pena ligar o autorádio, para me encontrar com o irmão do condutor, no souq das oficinas. Não é muito diferente da zona de armazéns da Serra do Casal de Cambra. Em Lisboa há a rua dos Fanqueiros e dos Correeiros, aqui ainda se juntam por ocupações. O que facilita. Depois de alguma discussão em árabe, mediada por um prestável colega, lá se chegou a um acordo, e obtidos os 3 orçamentos para a mão-de-obra, faltam as peças, as lojas já fecharam, fica para amanhã.
2020, Dezembro 16
Recolha do orçamento para peças, a loja A já tem o sistema desligado, que é quase por do sol, vá à loja B. Que não tem sequer todas as peças em stock. Regresso à loja A, mas afinal é na loja C, que já está a fechar. Com um apelo ao coração, lá se consegue o orçamento para as peças. Mais 50 riais, sff.
2020, Dezembro 17
Dia de embarque para Portugal, segunda ida à Mooror, para apresentar os orçamentos. Era suposto encontrar-me com o o irmão do condutor, que se balda. Mais um papel da polícia, com pedido para certificar os orçamentos. Os orçamentos são certificados num escritório oficial, algures no souq das oficinas. É preciso um guia, que custa mais 50 riais, e ainda tenho que pedir a um colega do escritório para me filmar o carro (vim na Ford Trânsit da empresa). Finalmente, mais 300 riais depois, tenho um envelope fechado, com a estimativa de custo; o carro vale X, no estado em que ficou depois do acidente ficou a valer Y, o custo é X-Y. Simples. Não se percebe para que foram necessários os orçamentos, mas isso agora não interessa nada.
O contacto passa a ser feito com o outro condutor, mas agora pausa para férias, que entretanto mete-se o Natal.