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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Não sei porquê…

Não é grande e também não é assim tão pequena.

Loura… também não estou bem a ver… O amarelo é o tom geral de todo o país.

Talvez os locais tenham descoberto aqui um tom de louro especial, assim a modos que uma luz de Lisboa mas em dourado.

 

Ushaiger é uma aldeia histórica no centro do país que com o advento do turismo ganhou alguma fama. Ainda me lembro de quando eram os expatriados que os únicos visitantes e os locais nos achavam tolinhos por ir admirar as casas de lama, que por abandono estavam a desaparecer como um castelo de areia na maré cheia. Num passo natural ao resto do mundo os habitantes locais cresceram a sonhar com a cidade grande e deixaram as casas tradicionais que lembravam o passado. Num passo também natural agora estão a descobrir o interesse deste e outros locais e felizmente a vida volta nem que seja apenas ao fim de semana e nas férias.

Agora já só falta uma feira do chocolate para pensar que estou em Óbidos.

E uma ginja já agora, se bem que me parece que vais ser mais difícil.

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16 Mai, 2021

HAJA SAÚDE

Vai bem, obrigado. 

O sistema nacional de saúde saudita baseia-se em hospitais públicos para os autóctones, gratuitos,  como seria de esperar. Consultas de especialidade podem ter listas de espera mais prolongadas, pelo que alguns complementam a coisa com seguros de saúde, normalmente por conta da empresa que os emprega.

Para os outros, os seguros de saúde são normalmente por conta da entidade empregadora. Ir ao hospital costuma ser um processo simples, admissão, triagem (no caso das urgências), consulta, imagiologia (se necessário), os resultados vão directamente para o computador do médico, e a prescrição vai directa para a farmácia no hospital. É só ir lá levantar a medicação, adeusinho e as melhoras. Tudo despachado numa única deslocação. 

Quando já há consulta marcada é ainda mais simples. A não ser que calhe no Ramadão. Nessa altura há fortes probabilidades da consulta ser agendada a partir das 21h00, e já me aconteceu estar no dentista à 1h30 da manhã. É mesmo de uma pessoa ficar de boca aberta.

Uma vez que o sistema para os não autóctones funciona muito à base de seguros (e como os locais também usam), os hospitais têm balcões de seguradoras, para resolver os assuntos na hora. A coisa está suficientemente informatizada para que as autorizações de meios complementares de diagnóstico demorem apenas alguns minutos. E os médicos não são meigos a pedir. Um diagnóstico de sinusite surgiu-me ao fim de um RX, uma TAC e uma ressonância magnética. Radiação suficiente para brilhar no escuro durante uma semana.

Quanto às instalações, os grandes hospitais são bem construídos, e bem equipados. Nas clínicas mais pequenas, tudo pode acontecer. Vejamos, a autorização de residência obriga a testes médicos, e a minha empresa da altura tinha um acordo com uma clínica baratinha, perto da sede. O interior era semelhante a um centro de saúde em Mem Martins, nos anos 70. A sala de espera do RX era dentro da própria sala de RX, a protecção do operador uma parede com cerca de 2,5m de altura e 1,2m de largura, e uma janela no centro. Para a colheita de amostras de sangue há um enfermeiro paraplégico, após a recolha coloca sobre a veia um pedaço de algodão, colado com uma tira de fita-cola, retirada do bordo da mesa de apoio, onde estão mais algumas penduradas. Para ser um filme de David Lynch só faltou a mulher do tronco.

Enfim, seja um hospital de topo ou uma clínica decrépita, o conselho do meu pai sobre os acidentes de automóvel aplica-se também às doenças: É melhor não ter.

De todas as imagens mentais que podemos fazer do Médio Oriente a da floresta tropical não será provavelmente a primeira que nos virá à idea.

 

E no entanto…

A pandemia que parou todo um mundo “normal” veio fazer cada um arranjar alternativas às rotinas que tinha até então. No meu caso era viajar para fora da Arábia Saudita a cada 3 meses, normalmente para voltar a Portugal e ver a família. Quando isto deixou de ser possível passei a fazer o famoso “vá para fora cá dentro”. 

Em Setembro de 2020 foi a vez de descobrir o Sul/Sueste do país. E nessa viagem descobri por acidente o Wadi Lajab. A título de curiosidade, a Arábia Saudita é dos únicos que não tem um rio “permanente”. Tem algumas zonas chamadas de Wadi, que traduzindo, são canais naturais onde as aguas da chuva correm. O Wadi Lajab é tudo isto mas em grande. 

 

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01 Mai, 2021

O TEMPO

Faz calor (duh) mas o assunto não é desse tempo. Embora até possa haver alguma relação com o ritmo a que se funciona por aqui, que isto anda tudo ligado.

Como já deu para se perceber pelos textos anteriores, no trânsito andam sempre rápido, com pressa de chegar a sítios. Quando lá chegam, acalmam.

Há lindas publicações inspiradoras em redes sociais, sobre a jornada ser mais importante do que o destino, mas parece que o algoritmo do Facebook não permite que isso aqui chegue. É preciso correr, para depois se parar.

Começa-se a trabalhar cedo, pela fresquinha (a sério, isto no Inverno até arrefece, e não é muito; e não é pouco; bastante), para terminar lá pelas 5. Quando o sol se põe é suposto já estar tudo em casa, com a família, até porque não há bares onde beber uma cerveja depois de encerrar o expediente.

No caso das actividades comerciais, os horários são mais alargados, e imprevisíveis. Há 5 orações diárias obrigatórias, mais uma facultativa, e tudo pára por essa altura. As lojas fecham mas, como o horário para rezar está ligado ao sol, a hora varia ao longo do ano, nunca é exactamente igual para todas as lojas, e demoram mais ou menos 10 minutos, ou 20, ou 32, qualquer coisa assim. Complica as coisas à hora de jantar, já que o magrib (pôr-do-sol), fica muito próximo do isha, que pode ser entre as 19:30 e as 20:30, conforme a estação, e portanto às vezes não se consegue jantar às 20:00; que é a hora a que começa o telejornal e é quando as pessoas civilizadas jantam. Também pode acontecer ficar-se fechado no restaurante, enquanto os funcionários vão rezar (os fiéis) ou actualizar as redes sociais (os restantes).

Não há pressa, mesmo que seja para ontem, pode ficar para amanhã. Talvez. Se Alá quiser.