Como uma pedra rolante
Há pessoas que não conseguem ficar sossegadas no mesmo sítio durante muito tempo. Às vezes estamos à beira-mar, outras vezes subimos à montanha.
Desta vez calhou Taif, uma pequena cidade, com um certo e determinado número de habitantes (deve estar na Wikipedia, mas não me apeteceu ir lá pesquisar), e macacos.
Diz que é a capital das rosas, ainda não as vi, mas também acabei de chegar.
Não sendo uma grande cidade, bafejada pelo privilégio de giga projectos do Fundo de Investimento Público (PIF para os amigos), a percentagem de expatriados ocidentais é baixa. Neste momento, além deste que vos escreve, há o colega francês e uns ingleses que moram no compound de um empreiteiro ligado ao Ministério da Defesa, e de lá só saem para ir trabalhar, ou de férias.
De modo que por aqui também há crise de habitação, mas com outras características, não é cara mas não é fácil encontrar apartamentos semelhantes ao que estamos habituados a ver pelos lados da Europa, ou mesmo no Seixal.
O prorietário de compound em Jidá diz que também explora um resort catita em Taif, fui ver. Fica a meia-hora do escritório, fui lá pela tardinha. Depois de 20 minutos pela via rápida, sai-se para uma estradeca estreita, começa-se a subir a colina e vêm-me à memória tempos passados, a legalizar construções clandestinas na Serra do Casal de Cambra. Mais uns quilómetros, já é noite cerrada, e já se começa a pensar que vamos fazer chamada de capa no Correio da Manhã, emigrante português encontrado desmembrado no deserto. Enfim, isto não é bem deserto, mas o Correio da Manhã também não é conhecido por permitir que a realidade perturbe um Alerta CM.
Adiante, chegado ao local, parece que é um resort estival, e já está um par de anos atrasado em obras de manutenção. Um funcionário apresenta os apartamentos disponíveis, afinal são todos. Temos portanto um cenário para o remake do Shining, mas em quentinho. Descartei, até porque já não tenho idade para andar a brincar com gémeas.
O resto da oferta, é só apartamentos ou aparthoteis. Os apartamentos têm disposições de acordo com a vida de uma família saudita, que o nómada digital é coisa que não lhes assiste. Já o aparthotel, pode ser confortável, sim senhor, mas tem pouca arrumação, que uma pessoa, mesmo que crente do processo Mari Kondo, vai acumulando umas coisas ao longo dos anos. E sempre dá jeito ter uma cozinha, quando somos novos lidamos bem com uma dieta exclusiva de Uber Eats, com uma certa idade convém cozinhar qualquer coisa em casa, e evitar os fritos vintage da restauração nestas paragens (fritos vintage, na medida em que o óleo usado está na fritadeira desde o dia da inauguração do estabelecimento).
Que temos então, ao nível do apartamento? Parece que é comum o lavatório ficar do lado de fora da casa de banho, e do lado de dentro não há base de chuveiro, há um ralo de chão, e se levarmos para o duche uma esfregona, lava-se tudo de uma vez.
As máquinas de lavar roupa são tipo Bimby, o utilizador coloca a roupa, depois a água e o detergente, liga o temporizador e aquilo apita quando acaba. Depois, passa a roupa para o cilindro do lado, esvazia a água (para o chão, que tem ralo, esfregona, etc.), volta a rodar, volta despejar água para enxaguar, volta a apitar, no fundo é cross-fit com Ariel em vez de Prozis.
Depois de mudança, vamos explorar a cidade, estão pouco habituados a turistas não sauditas, há pouca gente a falar inglês, valha-nos o Tradutor Google.
Hoje estamos na montanha, amanhã não sabemos.