Deixai lá ficar as criancinhas
Quando eu aqui cheguei, os restaurantes (e não só), eram segregados, homens solteiros para um lado, o resto para o outro, designado por “Famílias”.
A primeira vez que me sentei na zona de Famílias foi por ocasião de um jantar de expatriados portugueses, e rapidamente percebi a diferença: crianças por todo o lado, gritam, correm, há comida pelo ar (não há, mas se houvesse não estranharia). Pelo contrário, a área dos solteiros é quase como um clube de cavalheiros, dos britânicos. Há sossego, serenidade, consegue-se conversar sobre aquilo que nós, homens, conversamos, futebol e comida.
Aqui as crianças são mais do que as mães que, aliás, podem ser várias. Os sauditas levam as crianças para todo o lado, e de qualquer maneira, pelo seu próprio pé, ao colo, em carrinhos, arrastadas. Nos carros também é de qualquer forma, sentados, ao colo, no banco da frente, a apanhar ar à janela, ou de pé pelo tecto de abrir (nos anos 70/80 também era assim que viajávamos e ainda cá estamos, prevejo um belo futuro para as crianças sauditas que sobreviverem).
Há parques infantis por todo o lado, e não há shopping que não disponha de parque de diversões, que pode incluir carrosséis, montanhas russas, stripers, girafas e anões (pronto, exceptuando as stripers e os anões).
As meninas vestem-se como tiktokers, até à primeira menstruação, depois já têm direito a usar o kit modéstia (abaya, niqab e hijab), o que, parecendo que não, até ajuda a poupar no guarda-roupa, cabeleireiro e maquilhagem. Os garotos vestem calção e t-shirt até à puberdade. Depois, os mais conservadores passam para o thawb, os outros copiam concorrentes de espectáculos de realidade (reality shows, em americano).
Esta omnipresença torna impossível andar num avião saudita sem levar com um pimpolho a berrar durante toda a viagem, às vezes dois, em estéreo. Diz que são o futuro.