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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Vicissitudes da vida de expatriado, este ano não deu para ir à terra no Natal, já tinha acontecido em 2015.

Mas desta vez, não podendo o expatriado ir à terra, veio a terra ao expatriado. A Arábia Saudita já emite vistos de turismo, portanto veio a prole passar o Natal ao Médio Oriente. Como pertence.

A Arábia mudou, e muito, desde o último Natal que aqui passei. Há Winter Wonderland, montras enfeitadas a preceito, decorações à venda, menus de Natal nos restaurantes.

Mudou também a rede de relações, agora há famílias com quem partilhar a ceia, bacalhau, vinho, garotos a correr pela casa.

Dia 25 calhou a um Domingo, e aqui ainda é dia de trabalho, o almoço de Natal teve que ser a correr. Os Emirados já mudaram para o fim de semana ocidental, aqui não deve demorar. Idem para a passagem de ano, esgota hotéis no Dubai portanto mais ano menos ano dia 1 vai ser feriado por aqui. Fogo de artifício já há.

E se por esta altura faz frio em Riade, o que até ajuda na quadra festiva, em Jidá chove. Muito. E as autoridades municipais daqui fazem questão de ajudar a que um português da Área Metropolitana de Lisboa (Norte) se sinta em casa do Natal, portanto isto também fica tudo inundado quando a chuva coincide com a maré cheia.

No último dia da visita dos rebentos, começou a chover depois do jantar, com direito a relâmpagos, bem bonitos. Ainda foi possível levá-los ao aeroporto no Yaris do rent-a-car, mas no regresso achei melhor abandonar quando a água começou a entrar no habitáculo. Fica aqui na faixa da esquerda da avenida, junto ao separador central, amanhã venho buscá-lo. Se não chover. E se ainda cá estiver. 

O separador central não estava submerso, pelo que ao fim de 1000m de caminhada já estava junto à Estrada do Sultão, circulável, com a intenção de chamar um Uber. Surgiu então um Nissan Patrol conduzido por um autóctone, fluente em inglês:

Está tudo bem? Precisas de alguma coisa? Queres boleia para casa?

Não obrigado, deixa estar, não te incomodes, daqui já consigo apanhar um Uber

Esquece lá isso, não há Ubers que cá cheguem, entra, eu levo-te, já dei boleia uns filipinos que vinham do cinema. Saí de casa para fumar, e decidi circular por aí, a ver se alguém precisava de ajuda.

Espírito de Natal na terra do profeta, essa é que é essa, em vez de 8 renas era um V8 de 5l com 400 cavalos.

No dia seguinte, já havia Uber a circular, pelo menos até a um ponto próximo de onde tinha abandonado o carro, a água já só dava pelos tornozelos. Ainda lá estava. Foi só dar à chave e conduzir de regresso a casa, afinal de contas é um Toyota. Ainda cheira a esgoto, derivado ao tempo que ficou semi submerso, não se pode querer tudo, e um pinheirinho aromático pendurado no retrovisor até se adequa à época natalícia.

PS: A cobertura jornalística da contratação de Ronaldo pelo Al-Nassr levou a que jornalistas profissionais debitassem um chorrilho de disparates sobre a vida na Arábia Saudita. Pode ser só preguiça, ou não querer deixar a realidade estragar uma boa história.

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