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Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Gare do Oriente, Médio

Dois arquitectos portugueses emigram para o Reino da Arábia Saudita. Um escreve (às vezes também esquiça), outro fotografa.

Bom, não foi bem salvar a vida, foi mais evitar uma situação desagradável, vá.

A minha aventura no Médio Oriente começou em Riade, em 2015, e havia muita cidade para explorar. A família tinha ficado em Portugal, o Pokemon Go, era uma forma de me relacionar com o adolescente mais velho. E impressionar o puto, com os bicharocos que se apanhavam por aqui, pouco comuns em Portugal. Adiante.

Ou antes, para trás, para trás, um pouco (só um bocadinho) de história do desenvolvimento urbano de Riade. A cidade ter-se-á desenvolvido a partir da fortaleza de Masmak, no início do séc. XX, para norte, onde localiza agora o centro financeiro. No intervalo, construções corriqueiras misturam-se com edifícios modernistas e moradias inspiradas na arquitectura moderna americana do pós-guerra.

Um desses edifícios é este hipódromo/clube de equitação. Dei por ele durante um dos passeios, olhei para ele e disse: Vou-te fotografar. E fotografei. O segurança devia ter problemas de auto-imagem, não gostou que lhe fotografassem as instalações, e abordou-me nesse sentido. Acho que, que ainda agora não falo árabe, e na altura menos ainda.

Mudei o écran do telemóvel para o Pokemon Go, mostrando e insinuando que estava apenas a tentar apanhar um Geodude, não estava a fotografar nada. Uma vez que a comunicação não estava a fluir, o rapaz opta por chamar o chefe, pausa que aproveitei para apagar as fotos que tinha tirado. Achei mais saudável. De modo que, quando o chefe chegou, de carro, já tinha uma biblioteca de fotos limpa de imagens comprometedoras. O chefe já fala qualquer coisa de inglês, e ouve as minhas explicações com cara de “mas que raio é um Pokemon?” 

Eu insisto que não tirei fotos, o segurança insiste que sim, o chefe resolve chamar mais alguém, vem um chinês. Poliglota, já que além de mandarim (ou cantonês, sei lá) também fala árabe e inglês. Eu mantenho a minha justificação, suponho que o segurança mantém a dele. Já o chefe, suponho que já está farto e quer voltar para casa, que é fim de semana e ter sair para lidar com Pokemon é coisa que não lhe estaria nos planos. Portanto cede, vai em paz e que Alá te acompanhe.

O chinês deixa-me com um aviso, não jogues Pokemon Go na Arábia Saudita, que é perigoso. Já a cara do segurança, não deixava dúvidas sobre o que lhe ia mente, Eu bem sei que estavas a fotografar, cabrão!

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