O Conselho de Cooperação do Golfo
Acordos há muitos, e no Médio Oriente também há países que cooperam em coisas. O mais conhecido é o Conselho de Cooperação do Golfo, GCC para os amigos que só se expressam em americano.
É constituído por Arábia Saudita, Omã, Qatar, Kuwait, Bahrein e Emirados Árabes Unidos. Tipo, clube de países onde falam árabe, estão cheios de petróleo e não há insurgentes a criar problemas. Portanto o Irão não entra por causa da língua, e o Iraque por ainda estar um tudo nada instável. Se calhar não é bem esse o motivo, mas este pareceu-me tão bom como qualquer outro.
O Iémen não entra, que já não é banhado pelo Golfo Pérsico. Ou Golfo da Arábia, conforme o ponto de vista (afinal o Trump não inventou a moda de chamar nomes diferentes aos golfos). Tecnicamente, Omã também já não dá para esse golfo, têm um só para eles, mas como deve ter boas maneiras à mesa, lá foi aceite no clube.
Já visitei todos, como excepção do Kuwait (se quisermos ser mais precisos, só ainda visitei 2/7 dos Emirados Árabes Unidos). E diz quem já visitou o Kuwait, se é para estar num sítio em que se acompanha o jantar com sumo de romã, mais vale ficar por aqui.
E portanto, dos restantes países, acabei por finalmente visitar o Qatar, aproveitando o fim-de-semana prolongado do dia da Fundação.
Há que reconhecê-lo com frontalidade, a primeira impressão com que se fica é que são todos mais limpos e arrumados que a Arábia Saudita. Enfim, também são mais pequenos, menos cantos para aspirar.
O primeiro que visitei foi o Bahrein, em 2015. Ainda não tinha autorização de residência, e portanto havia que lá ir uma vez por mês, carimbar o passaporte, e beber uma cerveja no aeroporto (ou duas). Acabei por ir lá passar um fim-de-semana, nada de especial para ver, mas havia bares com música ao vivo e, lá está, cerveja. E tudo isto a 4 horas de carro de Riade, mais o tempo que demora a atravessar a ponte.
Já o Dubai é isso tudo em esteróides, gostei, não me vou alongar, o que não falta é influencers a descrever o seu luxuoso estilo de vida por lá.
Seguiu-se Omã, cujos Sultões optaram por gastar os rendimentos do petróleo de forma mais discreta. Os habitantes são os mais simpáticos da região, Muscate é mais para o acolhedor que para o exibicionista, tipo Tavira, mas sem ingleses mal vestidos.
E finalmente, o Qatar. Mais uma vez, parece tudo mais limpo e arrumado do que por aqui, as ruas bem desenhadas, poderia dizer que é a Suíça do Golfo, tirando a parte de guardarem a riqueza de nazis, e fazerem referendos por tudo e por nada. Investiram em arquitectura da boa, e mantiveram com cuidado as coisas mais a atirar para o antigo.
Na última noite, acabámos por nos envolver num acidente de tráfego, culpa de uma Qatari mais distraída (admito um certo SPT, derivado a isto e um outro semelhante, já em Jidá). Veio a polícia, veio o pai da moça, tudo para a esquadra, e a coisa resolveu-se sem drama. Quando voltámos a passar no local do acidente já lá estavam os técnicos de higiene urbana a limpar os estilhaços. Muito à frente, sim senhora.
3 dias é pouco para avaliar a qualidade de vida de um país, mas se compararmos o valor dos salários em cada um deles, para funções similares, dá para verificar que alguns não precisam de abrir tanto os cordões à bolsa para convencer ocidentais com talento a imigrar.
São escolhas, morar num sítio onde há menos ordenado para gastar em vinho, ou um sítio onde não há vinho em que gastar o ordenado.
Miguel O