Love Actually
Cabin crew, please take your seats for landing. É a minha frase preferida.
Costumo chegar ao aeroporto de Lisboa pela manhã, saí da Arábia Saudita de noite, ainda estou meio estremunhado quando avisto o Tejo, o estuário, a ponte Vasco da Gama e ouço o capitão.
Estou em casa.
Após a aterragem, imobilizada a aeronave, primeiros telefonemas com a família, sim, a viagem correu bem, segue-se a rotina habitual, desembarque (manga ou autocarro, varia), controlo de fronteiras se tiver feito escala em Istanbul, café e nata enquanto aguardo a chegada da bagagem, e a família que me aguarda na saída.
Nem sempre.
Tradicionalmente, os emigrantes gozavam um mês inteiro de férias em Agosto, faziam-se à estrada ao som de Dino Meira, cruzavam os Pirinéus, atravessavam Espanha, desaguavam nas aldeias, vilas, matavam saudades, festejavam e no fim do mês regressavam.
Um expatriado resiste a considerar-se cidadão de outro país, é onde fica o escritório, por enquanto, permanentemente temporário, temporariamente permanente. As férias vão sendo repartidas, Verão, Natal, Eids… E assim há mais chegadas, a vida em Portugal prossegue, há aulas, trabalho, compromissos, acaba por acontecer não termos ninguém à nossa espera no aeroporto.
Veja-se a cena inicial n’O Amor Acontece. Só que, actually, nas Chegadas do aeroporto de Lisboa não há só parentes e amigos que regressam, a maior parte são turistas, ninguém os aguarda, vão direitos ao espaço reservado a TVDE. E já aconteceu ir eu também, aterro à sexta-feira, nem sempre há disponibilidade da família para lá estar. Não é o ideal, mas ainda que seja não residente há anos, enfim, estou em casa.