Gestão de talento
Cheguei ao meu primeiro trabalho na Arábia Saudita quando este se encontrava entre gestores de projecto, estava a ser gerido pelo vice-gestor. Depois chegou um Jordano. Durou pouco. Depois veio um Americano. E um Português. Depois, um Egípcio. E entretanto saí eu.
A rotação de pessoal, por estes lados, é extremamente elevada, e quanto mais perto do topo se está, mais instável. Em sítios como Neom, anda sempre tudo constipado, das correntes de ar, com tanta porta a abrir e fechar para entradas e saídas de pessoal, que aquilo não é para todos.
Em Itália, quando um projecto está a correr mal, a primeira coisa que se faz é ir almoçar. Aqui, é despedir o responsável. Quer dizer, o responsável frequentemente é o cliente, mas como não se pode despedir a ele próprio, vai ter que despedir alguém, na empresa de gestão do projecto, ou na empresa que está a desenhar o edifício, ou na direcção de obras do empreiteiro. Ou uma combinação dos anteriores.
É sempre aborrecido para as partes envolvidas, mas tendo em conta o custo de aquisição de funcionários expatriados, e a procura que existe para estes cargos, com tanto projecto em curso pelo reino, não ficam muito tempo desocupados. Felizmente, até porque aqui não há subsídio de desemprego. Pela lei laboral Saudita, o aviso de despedimento tem que vir com dois meses de antecedência (algumas empresas definem apenas um, em contrato, mas isso também significa que o funcionário se pode pôr a andar mais rapidamente quando recebe uma oferta melhor). Há situações em que o cliente exige o afastamento imediato do indivíduo, e portanto fica com dois meses de salário pago para ficar a beber caipirinhas na praia (sem álcool, mais vale ir trabalhar) ou, em caso de empresas maiores, ser transferido para outro projecto.
De resto, sendo isto um país islâmico, não é suposto gastar tudo em putas e vinho verde, pessoas mais ajuízadas terão uma almofada simpática para pausas entre empregos.
Isto é o que se passa nos grandes projectos de construção, para os pequenos suponho que a coisa será mais calma.
Na área da saúde, noto também uma elevada rotação, enfermeiros portugueses que chegam, ficam uns meses, fartam-se e abandonam.
Até porque o salário emocional por estes lados é fraquinho. Não se pode ter tudo.